Descrição do exercício: Atividade do espelho
Participantes da cena: Reisla,Samuel
Grupo de elaboração:Cobra,Sassá e Eduardo
Autor: Matteus Cobra
Título: Destinos Cruzados
Destinos Cruzados
Era cedo, as nuvens se movimentavam vagarosamente pelo céu, numa dança onde da sua união e misturas geram novas transformações. Olhando pela janela, ela via as primeiras pessoas na rua, resolveu então se arrumar, pois havia prometido a sua mãe ajudá-la com as tarefas da casa. Foi ao banheiro, e pelo espelho ela via uma jovem mulher de olhos amendoados, cabelos compridos e volumosos com um rosto de traços marcantes cuja descendência provém da Itália. Trocou de roupa, e logo que saiu do quarto, sua mãe já a aguardava. D. Isabel mulher de fisionomia cansada da típica viúva que batalhou como pode para criar sua única filha, gostaria de ter tido mais, porém perdeu o marido muito cedo, em um acidente. As duas então iniciam a faxina no lar.
Dinheiro fácil, mulheres, tudo isso em um curto prazo de tempo. Esses são os planos João Alves, mais conhecido pelas redondezas como “Johnny Oportunista”, pois sempre que pode tenta ganhar vantagem em qualquer negócio. Cresceu com as leis das ruas, onde sempre o mais esperto ganha, perdeu os pais cedo, então tinha suas próprias regras. Havia acabado de vender um rádio velho e quebrado, dizendo que era “antiguidade da segunda guerra”; estava rindo à toa de sua própria esperteza. Virou uma quadra e estava chegando à velha pensão da D. Amélia. Não suportava o lugar, as pessoas, porém fazia-se de bonzinho, pois assim, “a velha” como ele diz, o deixava ficar no quarto, por um preço mais barato. Era uma pequena pensão pequena próxima a catedral, numa rua de pouco movimento, onde as crianças brincavam na rua. Uma bola vinha em sua direção, assim para acabar com a brincadeira tratou de furar a bola, olhando para as crianças e devolvendo com prazer e rindo muito, ultrapassou o pequeno portão, olhando para o céu e vendo como aquilo estava parecendo com o seu espírito, escuro e se preparando para uma forte chuva, mas algo, além disso, estava em sua mente: os planos de logo deixar aquela cidade que lhe trouxe tanta tristeza e amargura.
Isabel e Júlia haviam acabado as tarefas de casa, com um beijo na testa D. Isabel agradece a ajuda da filha, que parte para o banho. Julia apressou-se no banho, queria logo ir ao trabalho antes que começasse a chover, e, além disso, estava empolgada, pois ficara sabendo que as mulheres estavam lutando pelos seus direitos e ganhando mais espaço no mercado, devido ao golpe militar. Ela trabalhava em um gabinete político que defendia a causa das mulheres, e tudo isso pra ela esta sendo ótimo, pois não gostava das diferenças que havia entre homens e mulheres . Estava se arrumando pra sair, deu um ultimo retoque de batom, foi até a mãe que terminara de preparar algo pra ela levar para comer, deu-lhe um beijo carinhoso na testa e disse como sempre fazia ,quando ia trabalhar,”Mamãe, já volto” como se isso fosse o código das duas para que se sentissem bem, trocaram um ultimo olhar de ternura, e Júlia partiu para o ponto pegar o bonde que a levaria ao trabalho.
Johnny Oportunista olha pela janela de seu quartinho da pensão, ao mesmo tempo em que arruma suas malas, não havia muito, pois economizara como pudera para logo poder partir dali, duas ou três peças de roupas e seu chapéu que sempre usara. Seu chapéu era como sua identidade, tinha um apego muito grande, pois o conseguira em uma aposta, onde depois disso quase nunca o largara. O chapéu e sua falha barba o classificaram sempre como o malandro do bairro, corpo magro, balanço no andar, nunca teve problemas com mulheres, sempre teve talento para as coisas levianas da vida, um típico “boa vida”. Logo que terminou de arrumar a mala deu uma ultima olhada para cada canto do minúsculo quarto, não havia muito que olhar uma cama, logo ao lado um criado-mudo escalavrado, no outro canto um pequeno e puído guarda-roupa e uma mesa com cadeira. Assim sendo, vestido com trajes de viagem que conseguira num brechó, partiu tomando cuidado para não cruzar com nenhum inquilino fuxiqueiro que lhe parasse e disparasse uma torrente de perguntas, em meio à forte chuva que assolava Piracicaba.
No alto do céu lutando contra chuva, um pássaro, que junto com seu bando procurou abrigo, mas sem sucesso. Pousou em um fio de alta tensão, em um poste próximo ao majestoso prédio do Comurba, era início de tarde onde todos apesar da chuva, realizavam suas tarefas, seus compromissos, homens mulheres e crianças, caminhavam pela calçada. Porém, como lampejo do seu reflexo animal, puro instinto voou, não só ele, mas todos. Tudo aconteceu de repente como se aquele segundo fosse uma centena de anos, o prédio que outrora estava ali, desabara era como se as terras abaixo haviam sido fundidas e explodidas por algum fato terrível — o desastroso cataclismo que lançara aquela parte do mundo para o fundo de si-mesma.
Ao mesmo tempo em um bondinho Júlia, estava a poucas quadras do seu trabalho, o bonde vinha lotado, devido a forte chuva e ao horário, todos se apertavam para conseguir um lugar, quando de repente, ouve-se o forte estrondo, vindo proximo dali.
Bem ao lado da catedral, Jonny caminha para pegar o onibus de viagem, quando foi pego também pelo forte estrondo.
Logo após o barulho, havia chegado a densa camada de poeira e entrado nas áreas devastadas; a envenenada escuridão daquele lugar que outrora fora florido, agora se estendia em toda a volta deles, ouvia-se por todos os lados pedidos de socorro, pessoas desesperadas, corpos esmagados ,de homens ,mulheres e crianças, ninguém se viu livre da fatalidade.
Julia viu-se em transe diante dos horrores que se desenrolavam,o bonde passava pela prudente no momento da queda do edificio por pouco o bonde não é atingido por alguma lage, porém o condutor perde o controle e acontece um acidente, que por pouco não a mata, sai apenas com algumas escoriações.Johnny atravessa a praça, rumo aos destroços, estava com um pouco de medo, mas isso não o impediu de ir até lá em pensar que em meio a essa desgraça poderia faturar, era uma oportunidade única, jóias nas lojas ,dinheiro ou objetos de valor, poderia lhe sustentar por um ótimo tempo. Andava com cautela pois não enxergava em meio aquela poeira e também não estava nem um pouco afim de ajudar ninguém,pensou consigo mesmo ,que isso era bem feito pra essa cidade que só o fizera sofrer, fria e calmamente se deslocada pra uma loja de jóias que ficava quase ao lado do Comurba que foi atingida por pedaços das lajes do edifício, ignorando os constantes pedidos de socorro que vinha de todos os lados. Julia tentava procurar uma saida para aquele labirinto de poeira e terra, porém sem exito, só queria sair dali, desesperada, pensava na mãe e como ela ficaria se soubesse da sua morte, pois sabia que corria risco estando ali, tenta respirar, porém o ar está rarefeito, os olhos começam a ficar marejados com as esperanças se esvaindo, sabe que se pedir ajuda, será em vão pois tantos outros a faziam do mesmo modo, sem nenhum retorno. Mal conseguia andar, havia madeira, vidros quebrados, pedaços gigantes de concreto e como um mantra infernal, os constantes gritos de horror, de pessoas feridas e a sua volta uma ou outra pessoa morta esmagada pelos destroços. Logo ali a sua esquerda vê o que pode ser uma possivel saída, porém a sua direita ve uma menina com um pouco mais de 7 anos sozinha chorando, está com um corte na cabeça, roupas rasgadas chamando pela mãe, em um lugar onde a qualquer minuto o letreiro de uma loja de jóias pode cair sobre sua cabeça. Julia encontra numa dificil situação: Proteger a própria pele, ver sua mãe novamente ou socorrer a pobre garota?
“Finalmente, nunca vou ter o que sempre sonhei”diz rindo Johnny, com seu corpo magro consegue ,entrar na loja onde ve o dono desmaiado, não dá bola empurra ele para o lado verificando antes se ele não possui algo de valor e vai logo saqueando e pegando da vitrine e do chão as jóias e colocando em sua mala, como uma criança numa loja de doces ele realiza o saque na loja com os olhos brilhando em êxtase até esquecendo por um segundo onde se encontrava, começa a cantarolar feliz da vida “New York”, aos saltos termina de rapar a loja. Ao fundo ouve o choro constante de uma criança, quando olha para fora da loja ve a criança de costas chorando ao lado do que outrora foi a sua mãe, “não se preocupe criança, você vai aprender o mesmo jeito que eu aprendi, sofrendo, que a vida nunca é, foi e jamais vai ser fácil, seja esperta que você conseguirá viver, como diz o velho ditado “o mundo é dos espertos”, fala isso, porém a criança não ouve, apenas chora. Ele se dirige a saída.
“Eu não quero viver com uma imagem da uma criança que eu poderia ter salvado, ou pelo menos ter tentado salvar” pensa Júlia, assim, superando seus medos, cria forças e corre em direção à criança.
Ao sair, Johnny vê que o letreiro está prestes a cair, e sem pensar no que estava fazendo dá um forte empurrão na criança, que se desequilibra e cai sentada enquanto ele se protege do letreiro que cai e por um triz não os atinge. "Criança estúpida que não faz nada além de chorar! Bem pelo menos evitei que sujasse meu terno com o seu sangue" disse enquanto tirava poeira de sua roupa. No seu subconsciente João Alves sabia que a tinha salvado para que ela pelo menos possa viver e construir um futuro melhor e diferente do qual ele construiu. Julia chega logo depois ao ocorrido, ofegante, vai até a criança, que continua chorando, ela a abraça e tenta acalmá-la, nisso Johnny pega sua mala e prepara para ir à direção contrária na qual a mulher veio. "Espere! Você está bem? Por pouco também não foi atingido, vamos procurar ajuda juntos!”. Johnny que estava de costas para ela, coloca com calma a mala ao chão e se vira com um olhar de superioridade, a medindo de alto a baixo, respira com desdém e diz "Eu não lhe devo satisfação alguma, sou um homem que anda só e vivo de oportunidades, andar com vocês só me trará prejuízo e perda de tempo, você está por conta própria". Julia o olha com indignação e quando pensa em dizer algo, um grande pedregulho que estava logo acima das lojas se desprende, ela tenta correr, porém se desequilibra e cai, a criança rola e não se fere o pedregulho atinge suas pernas e a deixa impossibilitada de se movimentar. Johnny Oportunista apenas assiste a cena sem mover um dedo para ajudar. Uma dor lancinante a domina, tenta mexer a perna e não consegue, a visão ia e vinha ficando escura, mas antes olha nos olhos de Johnny sussurrando “quebrei a perna, me ajude”, porém o que vê lá é uma escuridão infinita, sem esperança, pura amargura, uma frieza que nunca havia visto. Antes de ela perder a consciência Johnny também a olha nos olhos e em seu rosto, onde outrora havia força, agora há horror, desesperança e pavor. Ao longe se podia ouvir o som da sirene, indicando que logo a ajuda estaria a caminho. Nisso Julia perde a consciência vendo Johnny se virar e ir embora cantarolando o hino de Piracicaba feliz como se nada daquilo tivesse ocorrido.
Matteus Cobra